segunda-feira, 8 de junho de 2009

Cartas a Sebastião IV

Caro Sebastião…

Não sei qual foi o mal que me bateu a porta nem de onde vem ele, mas é um tanto sinistro…
A uns dias para cá, a melancolia tem me trancado no quarto, não tenho saído dele, estou como doente mas para a minha doença também não a remédio…
Diria que tudo perdeu a cor e o encanto, é o tédio que me consome neste momento.
Ate escrevo no escuro para não ver mais palavras…
Nunca mais vi Raquel…e o tempo ficou mais frio, sabes o quanto sou fraquinho!
As cores tornavam-se monótonas, os sons tornavam-me aos poucos surdos. E a minha animação desfalecia...
Desculpa-me meu amigo, por não te dar novidades a longos dias, mas acredita não me sinto bem…
A dona Lurdes já não sabe o que fazer, é uma mulher incrível preocupada e muito dedicada, ate tem trazido o seu violino, e todos os dias depois de servir o pequeno-almoço no condomínio tenho direito a uma hora de doce música.
Fico com o coração entorpecido, ai Raquel…será que lhe aconteceu alguma coisa?
Espero que por ai as coisas estejam melhores.
Se Maria voltou a andar é de certo porque o sol e a tua companhia aquecem mais…
Obrigado meu amigo, obrigado por todas as cartas e todos os momentos passados são a única luz neste meu espírito desarrumado.
Cada noticia tua soa-me como um novo recomeço…

Um abraço
Leonardo Constantinoviche

7 de junho 1918

domingo, 7 de junho de 2009

Lisboa, Lisboa...






By:SrProprio

sábado, 6 de junho de 2009

Caro Leonardo II

Meu querido Leonardo:

Fugimos de Paris antes de rebentar a primeira bomba e por sorte chegamos a Mumbai a tempo de ver florir as glicínias Cresceram barbas desde que aqui chegámos sem no entanto termos verdadeiramente partido. As ruas que tanto amámos tu e eu estão agora calcetadas de pregos e a árvore do desalento feita em pedaços pequeninos guardados em minúsculos frascos de vidro para se venderem aos turistas.Maria já anda sozinha, um pé depois do outro. Deves sentir um certo orgulho não? Voltar a andar ao 183 anos não para qualquer um.
Conclui na semana passada o meu estudo introdutório aos "Veios morfológicos do mármore de Carrara, que bem sei, em nada se compara ao teu "Estudo da madeira contemporânea". Temo informar-te que o volume III se perdeu no grande incêndio de 17 de Abril.
Da nossa janela já se vê o Ulhas agora que a luz é mais difusa.
Espero que encontres o que te espera em Londres. Agasalha-te e manten-te longe das Shepherds' Pies, sabes bem que o teu estômago não se dá com a massa folhada.

Um grande abraço e uma nota de dólar rasgada no meio.


Sebastião Sarmento
27 de Março de 1918

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Nos meus livros...


Nos meus livros o super-homem não voa, pois tem fobia de chegar aos céus...

Nos meus livros os actores fazem amor de memória…

Nos meus livros os vilões não têm sombra…

Nos meus livros a branca de neve levou com uma pêra na boca e a Cinderela tinha um nome impronunciável...

Nos meus livros a gata borralheira era constantemente seguida por cães, e fugiu com o melhor amigo do príncipe, acabando a vida num passeio a pedir esmola para alimentar os filhos...

Nos meus livros a bruxa era gaga e morre de uma cirrose…

Nos meus livros as coroas são de plástico, as espadas de cartão e os castelos de palha...

Nos meus livros o lucky luke bebia mais rápido do que a sua sombra...

Nos meus livros...
Há outros livros…
By:Sr.Próprio