terça-feira, 24 de março de 2009

Cartas a Sebastião III

Caro Sebastião:

As tuas palavras enchem-me de desordem não imaginas o quanto me sinto mal lamento um milhão de vezes o que se passou, não vos mereço é certo...
Torna-se difícil viver, e insuportável não existir...
Não sei ao que se deve, tal sentimento mas estou convicto que o simples facto dos meus recursos serem limitados face às minhas vontades ilimitadas, está no centro deste meu problema!
Hoje acordei mais cedo para conversar com a senhora Lurdes, as flores por aqui são sagradas e colhem-se o ano todo, as meninas estão assim habituadas desde pequenas, habito cultural, entendes-me? Parece que recebem flores como se oferece amor. Nem imaginas o quanto gostaria de ser um cravo...
Falou-me de Raquel, mas para ser sincero recusei-me a ouvir, não me quero desiludir tão de pressa e tem sempre mais piada quando adivinha-mos por nos próprios... no entanto entendi que partia hoje, com destino a Londres...
Sinto uma asfixia lenta, falta-me o ar quando respiro...
A voz quando falo...
A fome quando como...
Sei muito bem o que pensas, que no meio de tanta falta não me faltou pernas para fugir...
Nada te posso dizer apenas que lamento e que tens razão...
Foi o meu corpo que dominou a minha alma e quando dei por mim o assalto já estava dado.
Terei que partir em breve, deixo-te para conhecer o porto da Babilónia, creio que o ar marítimo me fará muito bem... e talvez quem sabe? veja Raquel!

Obrigado por tudo,
Um abraço



Leonardo Constantinovichi
21 de Março de 1918

Caro Leonardo

Caro Leonardo,

Também por aqui o Sol morre em crescendo desde que te exilaste nesse pais de flores que miram flores.
Nas ruas de Paris as carroças que correm em câmara lenta deixam rastos de melancolia, como se de caracóis ou lesmas multicolores se tratassem. As árvores já têm folhas e os pássaros continuam mudos.
A Maria envia-te beijos de algodão doce.

Um grande abraço e uma nota de dólar rasgada no meio.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Cartas a Sebastião II

Caro Sebastião:

Não tencionava escrever-te tão cedo, mas como sabes
acontecimentos geram acontecimentos e há pouco, por mais incrível que pareça, cruzei-me com uma mulher de carácter singular, não, não lhe falei, bem sabes o quanto sou reservado, no entanto conheço-lhe o nome, Raquel… o que te parece?
De qualquer modo falarei com a Sra.Lurdes ( a dona do condomínio) para assim lhe conhecer melhor as formas…
Tenho-lhe desde já uma ideia positiva, penso que seja uma mulher de personalidade inversa, digamos, para completar a minha descrição, que se em cada segundo acontece alguma coisa por estas bandas, como te dizia a pouco, quando Raquel passa…nada acontece!
Ela passa. E passa! E vimo-la passar, e isto durante segundos e depois minutos, e é o sol que não se mexe e a lua que não pára, e o vento move-se, todo em torno dela!
Já te ouço sorrir, e vejo-te desenhado em pensamentos que nunca moderei…mas acredita por aqui tudo é diferente, o sol aqui até aquece mais...
Ora trinta segundo mais depressa, ora trinta segundos mais devagar e Raquel, Raquel é o sol da Babilónia…
Sinto a falta da minha colecção de "estudo da madeira contemporânea" volumes III e V manda-mos assim que poderes.

Leonardo Constantinovich
14 Março 1918

Cartas a Sebastião I

Caro Sebastião:

Os dias por aqui passados, são de charme próprio, apenas te posso dizer que o tempo por aqui divide-se por dias, horas e minutos e assim infinitamente. Bem sei que te parece ridículo, porque em toda a parte do globo assim se passa o tempo, mas por aqui é “simplesmente” diferente. Pois a cada segundo, a cada momento acontece uma coisa nova, ou é um pássaro numa folha, ou é uma folha num ramo, ou ainda um ramo numa árvore…
As meninas por estas bandas são verdadeiros tesouros, passam o dia inteiro a olhar para as flores, e eu passo o meu dia a olhar para essas meninas que olham para essas mesmas flores. Como te explicar, dir-se-ia que por aqui a primavera “acontece” apenas uma vez de dez em dez anos…
Hoje questionarei a senhora do condomínio sobre esse assunto, mulher madura, viva e viúva, ainda lhe desconheço o nome, nem sei ao certo se gosto de aqui estar, mas para ser sincero também não desgosto…
Sei bem, que não aprovas a minha partida, mas o apoio é incondicional para o sucesso, por isso peço-te não voltes a interferir nesta ou noutras decisões minhas, digamos que desta vez foi um exílio forçado, isto de andar de carroça em contramão nunca deu nada de positivo nas ruas de Paris.

Manda beijos a Maria,
Sinto a vossa falta…


Leonardo Constantinovich,
14 de Março de 1918

domingo, 1 de março de 2009

Spider 2



by:Sr_Próprio



spider








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