terça-feira, 8 de setembro de 2009

Caro Leonardo III

Meu querido Leonardo:

Entristece-me saber-te nessa melancolia, enclausurado na escuridão dos teus aposentos. Reconforta-me no entanto saber que Dona Lurdes te anima o espírito com o seu vilino. Já lhe telegrafei pedindo-lhe que toque para ti o Concerto en D minor Op.47 de Schoenberg. Tenho a certeza que te elevará ao eter arrancando-te da letargia a que te devotas-te.

Os meus contactos de Shaftesbury Avenue dão-me a certeza quase absoluta de encontrar Raquel ainda no decorrer deste mês. Sabemos que depois de chegar a Londres em Abril, seguiu quase de imediato para Calais onde lhe perdemos o rasto. Rogo-te um pouco mais de paciência, Sir Robert Peel é um, se não o melhor, detective da Scotland Yard e a sua busca por Raquel é neste momento o âmago da sua própria vida. Nota que o faz não porque lho tenha pedido, mas por devoção a ti e à tua obra.

Continuamos por Mumbai, comprámos uma pequena casa no Monte Malabar que de certo te irá agradar, com as suas árvores e plantas constantemente balançando com a suave brisa que vem do mar.

Encontrei noutro dia no Zaveri, enquanto procurava "O Síndrome de Ulisses" de Bolaño, um belíssimo exemplar de "Fome" de Knut Hamsum que te envio junto com esta carta.

Maria recupera dia a dia a boa disposição de outrora, agora com ar de quem tem 80 solarengas Primaveras (sim, as flores de Nalini operam verdadeiros milagres) dedica-se quase de corpo e alma à dança. Tem passado as tardes com Jean Coralli coreografando "Le Diable Boiteux". Um delírio para todos os sentidos já de si inebriados com toda a beleza envolvente.

Esperamos ansiosamente uma visita tua, agora que finalmente organizamos a biblioteca.

Um grande abraço e uma nota de dólar rasgada no meio.

Sebastião Sarmento
16 de Junho de 1918

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Cartas a Sebastião IV

Caro Sebastião…

Não sei qual foi o mal que me bateu a porta nem de onde vem ele, mas é um tanto sinistro…
A uns dias para cá, a melancolia tem me trancado no quarto, não tenho saído dele, estou como doente mas para a minha doença também não a remédio…
Diria que tudo perdeu a cor e o encanto, é o tédio que me consome neste momento.
Ate escrevo no escuro para não ver mais palavras…
Nunca mais vi Raquel…e o tempo ficou mais frio, sabes o quanto sou fraquinho!
As cores tornavam-se monótonas, os sons tornavam-me aos poucos surdos. E a minha animação desfalecia...
Desculpa-me meu amigo, por não te dar novidades a longos dias, mas acredita não me sinto bem…
A dona Lurdes já não sabe o que fazer, é uma mulher incrível preocupada e muito dedicada, ate tem trazido o seu violino, e todos os dias depois de servir o pequeno-almoço no condomínio tenho direito a uma hora de doce música.
Fico com o coração entorpecido, ai Raquel…será que lhe aconteceu alguma coisa?
Espero que por ai as coisas estejam melhores.
Se Maria voltou a andar é de certo porque o sol e a tua companhia aquecem mais…
Obrigado meu amigo, obrigado por todas as cartas e todos os momentos passados são a única luz neste meu espírito desarrumado.
Cada noticia tua soa-me como um novo recomeço…

Um abraço
Leonardo Constantinoviche

7 de junho 1918

domingo, 7 de junho de 2009

Lisboa, Lisboa...






By:SrProprio

sábado, 6 de junho de 2009

Caro Leonardo II

Meu querido Leonardo:

Fugimos de Paris antes de rebentar a primeira bomba e por sorte chegamos a Mumbai a tempo de ver florir as glicínias Cresceram barbas desde que aqui chegámos sem no entanto termos verdadeiramente partido. As ruas que tanto amámos tu e eu estão agora calcetadas de pregos e a árvore do desalento feita em pedaços pequeninos guardados em minúsculos frascos de vidro para se venderem aos turistas.Maria já anda sozinha, um pé depois do outro. Deves sentir um certo orgulho não? Voltar a andar ao 183 anos não para qualquer um.
Conclui na semana passada o meu estudo introdutório aos "Veios morfológicos do mármore de Carrara, que bem sei, em nada se compara ao teu "Estudo da madeira contemporânea". Temo informar-te que o volume III se perdeu no grande incêndio de 17 de Abril.
Da nossa janela já se vê o Ulhas agora que a luz é mais difusa.
Espero que encontres o que te espera em Londres. Agasalha-te e manten-te longe das Shepherds' Pies, sabes bem que o teu estômago não se dá com a massa folhada.

Um grande abraço e uma nota de dólar rasgada no meio.


Sebastião Sarmento
27 de Março de 1918

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Nos meus livros...


Nos meus livros o super-homem não voa, pois tem fobia de chegar aos céus...

Nos meus livros os actores fazem amor de memória…

Nos meus livros os vilões não têm sombra…

Nos meus livros a branca de neve levou com uma pêra na boca e a Cinderela tinha um nome impronunciável...

Nos meus livros a gata borralheira era constantemente seguida por cães, e fugiu com o melhor amigo do príncipe, acabando a vida num passeio a pedir esmola para alimentar os filhos...

Nos meus livros a bruxa era gaga e morre de uma cirrose…

Nos meus livros as coroas são de plástico, as espadas de cartão e os castelos de palha...

Nos meus livros o lucky luke bebia mais rápido do que a sua sombra...

Nos meus livros...
Há outros livros…
By:Sr.Próprio

domingo, 31 de maio de 2009

Eleições Para o Parlamento Europeu (Cidadão Europeu Informe-se!)


Há temas que me fascinam. A União Europeia e o modo como funciona é um deles. Sou um cidadão europeu. Digo-o com enorme orgulho. Sim, sou um adepto da integração europeia.
Talvez alguns de vocês, caros visitantes, não o sejam. Ainda assim é inegável, mesmo para os que são contra a integração europeia a importância destas eleições, até porque no próprio Parlamento Europeu estão representadas as facções anti-integração europeia (ex. a Front National).
Bem, quer sejam a favor ou contra, quer concordem com a via tomada pela integração europeia quer defendam outra, só poderam fazer valer o vosso ponto, votando, ou melhor, fazendo a vossa opinião estar representada no Parlamento Europeu.
Dado isto e também que muitas pessoas não votam nestas eleições porque simplesmente não sabem em quem votar, deixo aqui este link (muito interessante) http://www.euprofiler.eu/ . Espero que vos seja útil.
Um bem haja a todos vós assíduos leitores/seguidores.


PS1 - Peço desculpa pela forma demasiado "corrida" deste post, mas esta altura dos semestre é crítica e o tempo é sempre pouco (mesmo noutras alturas). Percam 5 minutos que seja no site ;).


PS2 - Este é o centésimo post no blog. PARABÉNS equipa! =D


LD

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Um pouco de nada e de tudo IV


Instantes depois da minha entrada no café do largo, tinha reparado que a rapariga de cabelo loiro me fixava de modo acido-o, assaltando-me constantemente com o seu olhar doce e de sensibilidade ingénua.
Tomei logo as minhas percussões, evitei o contacto visual e sempre que alguém me falava tentava dar nas vistas falando sobre a voz do meu interlocutores, batendo com a mão na mesa dizendo que não concordava, que era do país…
Ajeitando constante mente de modo primitivo o meu corpo cabeludo para o lado...acenando a pessoas desconhecidas.
Que estava afinal a fazer?
Quem me conhecera, em outros tempos, entenderia, pois sou de natureza tímida...e...preconceituosa.
Numa ocasião por ter deixado o relógio em casa obriguei-me e entrar dentro de um café, acabando por consumir um bolo para poder ler o relógio que estava no canto perto da televisão.
Estaria eu a falar mais alto por assim dizer, para justificar a razão de a rapariga continuar a insistir na minha pessoa?
Para fundamentar alguma coisa que estava de certa forma sem fundamento?
Tendo deste modo, a justificação ou a falta dela, que já ninguém olhava para os meus sapatos que não estavam engraxado ou para o remendo no joelho, mas sim para a minha cara pois estou a declamar que um café morno em Portugal era o melhor que se podia ter …
Ou estria a falsear a minha personalidade?
Demonstrando que sim não tenho medo e que posso e faço...?
Este tipo de rapariga destrói-me...
São seres que desconhecemos e que vêem por em causa a nossa modo de vestir de falar de andar para não dizer o nosso modo de arranjar o cabelo acabando na postura...
Que arrogantes…
Actualmente tenho o cabelo curto, por isso não me penteio, e tenho mais postura quando tento não a ter, visto-me por assim dizer com a roupa mais limpa que consigo encontrar em casa…e os meus sapatos já não os posso engraxar pois deitei-os fora o ano passado…
Quanto a raparigas?
Hoje sou eu quem as fixa, de modo acido-o, assaltando-lhes constantemente o olhar de modo doce e de sensibilidade ingénua…
By:SrPróprio

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Um pouco de nada e de tudo III


Talvez fosse desnecessário, tantos gritos mas tinha de o fazer...
Hoje deparei-me com uma situação bastante estranha.
Como sabes, nunca me faltou nada.
Também nunca precisei de tudo ou o nada era tudo do todo do que realmente precisava?
De qualquer modo por mais obsceno que parece dei por mim sem caneta.
Só queria ter uma caneta, a caneta ou simplesmente só caneta, mas a verdade é que não a tinha e querer ter algo que se não tem é realmente algo de muito frustrante.
Para mais é um instrumento imprescindível para este meu trabalho manual
Não a ter? Ai meu deus nem sei como te dizer, assemelha-se muito com o estar enjaulado, sinto-me como preso, por não conseguir prender por minha vez os meus próprios pensamentos que se evolam em sentidos convexos neste assalto.
Que drama meu amigo, é realmente uma necessidade, e quanto mais penso nisso mais fico nervoso, a minha mão revolta-se e pronto...
By:SrPróprio

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Como Aumentar as Visitas do Blog?!

Caros visitantes, antes de mais gostaria de agradecer-vos por se manterem fiéis ao nosso blog, isso para nós tem sido muito importante.
Todos nós achamos muito relevante saber quais as vossas preferências e qual a vossa opinião relativamente ao nosso blog. Vai daí criámos um inquérito muito simples, com apenas dez perguntas também elas sem qualquer complexidade (tempo estimado para completar o inquérito=7 minutos).
Nós queremos ser melhores! A medida do nosso sucesso depende quase exclusivamente do vosso feedback. Como tal, gostaríamos de vos pedir (mais uma vez) que colaborassem connosco e preenchessem o inquérito. Só assim podemos melhorar.
Basta clickarem em VIEW SURVEY, na coluna do lado direito, ou aqui.
Obrigado pela vossa disponibilidade!
Um bem haja de toda a equipa do FreedmenTimes!

LD
Sr. Próprio
André
Nazaré
António

terça-feira, 21 de abril de 2009

Um pouco de nada e de tudo II


Actualmente tenho perdido o sentido de prioridade...
Perder o sentido de prioridade assemelha-se de perto como andar no meio dum pântano(e digo pântano para não dizer mata...e andar no meio de mim acredito que seja chato)com uma bússola, mas uma bússola desnorteada.
Passo a explicar, é tão fácil como a correlação entre causa e o efeito. Os nossos actos parecem-nos(a nos) dirigirem-se numa direcção que na verdade é a inversa causando efeitos que não estamos de certo modo a espera...
Pois por mais que tenhamos um raciocínio inatingível, cercado por uma cultura geral infinita e isto tudo vedado por um poder de argumentação incomum se tivermos uma bússola desnorteada nunca vamos para o sitio pretendido...
Isto tudo para dizer que, por mais que as nossas vontade seja de semear a felicidade e o bem, se nos basearmos ou tivermos como fonte orientação um bode mal parido ao nosso lado a depositar-nos constantemente produtos químicos no intuído de melhorar as nossas colheitas...já mais chegaremos a algum lado com as nossas acções, pois esses produtos revelar-se-ao nocivos na ora do consumo...
Por isso, imploro, gente louca...
Tenham cuidado com os detentores das palavras da revolta...
Devemos sempre fiar-nos em dois tipos de informação, neste sentido por mais que a bússola seja boa, olhar para as estrelas ou para o musgo das árvores não nos ira fazer mal tenho a certeza! E caso se revele um fracasso (pois não entendo nada de musgo nem nada de estrelas...) a culpa será apenas minha e ai poderei sorrir!
By:SrProprio

Um pouco de nada e de tudo I

Ilumina-se a alma quando toco neste teclado,

o som dos meus pensamentos ganharem forma instantaneamente neste ecrã...

Eu que recriminava a tecnologia, estou em parte apaixonado...

por algo que não gosto mas que me faz sentir bem.

Diria que a uma compatibilidade entre nos, sim, eu penso e este transcreve, afirmo e ele não discute, não seria perfeito?

Como uma relação egocêntrica, em que a única função do sujeito que nos acompanha a correcção de algumas imperfeições?

Com uma correlação, de opiniões e por fim uma afeição!

Seremos nós, transcritores, seres tão perfeitos que apenas nos suportamos a nos próprios? Olhando para o ecrã como se se trata-se do espelho de algo que se parece connosco, " a nossa alma"...

Fico confuso, por admirar algo que tem alma mas que não tem forma.

No mundo do intelecto... mais vale parecer alguém a vida toda, do que ser ninguém toda a vida! Apesar de fantástico sinto-me frustrado por finalmente entender que ate a tecnologia ultrapassou o ser humano...


By.SrPróprio

terça-feira, 24 de março de 2009

Cartas a Sebastião III

Caro Sebastião:

As tuas palavras enchem-me de desordem não imaginas o quanto me sinto mal lamento um milhão de vezes o que se passou, não vos mereço é certo...
Torna-se difícil viver, e insuportável não existir...
Não sei ao que se deve, tal sentimento mas estou convicto que o simples facto dos meus recursos serem limitados face às minhas vontades ilimitadas, está no centro deste meu problema!
Hoje acordei mais cedo para conversar com a senhora Lurdes, as flores por aqui são sagradas e colhem-se o ano todo, as meninas estão assim habituadas desde pequenas, habito cultural, entendes-me? Parece que recebem flores como se oferece amor. Nem imaginas o quanto gostaria de ser um cravo...
Falou-me de Raquel, mas para ser sincero recusei-me a ouvir, não me quero desiludir tão de pressa e tem sempre mais piada quando adivinha-mos por nos próprios... no entanto entendi que partia hoje, com destino a Londres...
Sinto uma asfixia lenta, falta-me o ar quando respiro...
A voz quando falo...
A fome quando como...
Sei muito bem o que pensas, que no meio de tanta falta não me faltou pernas para fugir...
Nada te posso dizer apenas que lamento e que tens razão...
Foi o meu corpo que dominou a minha alma e quando dei por mim o assalto já estava dado.
Terei que partir em breve, deixo-te para conhecer o porto da Babilónia, creio que o ar marítimo me fará muito bem... e talvez quem sabe? veja Raquel!

Obrigado por tudo,
Um abraço



Leonardo Constantinovichi
21 de Março de 1918

Caro Leonardo

Caro Leonardo,

Também por aqui o Sol morre em crescendo desde que te exilaste nesse pais de flores que miram flores.
Nas ruas de Paris as carroças que correm em câmara lenta deixam rastos de melancolia, como se de caracóis ou lesmas multicolores se tratassem. As árvores já têm folhas e os pássaros continuam mudos.
A Maria envia-te beijos de algodão doce.

Um grande abraço e uma nota de dólar rasgada no meio.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Cartas a Sebastião II

Caro Sebastião:

Não tencionava escrever-te tão cedo, mas como sabes
acontecimentos geram acontecimentos e há pouco, por mais incrível que pareça, cruzei-me com uma mulher de carácter singular, não, não lhe falei, bem sabes o quanto sou reservado, no entanto conheço-lhe o nome, Raquel… o que te parece?
De qualquer modo falarei com a Sra.Lurdes ( a dona do condomínio) para assim lhe conhecer melhor as formas…
Tenho-lhe desde já uma ideia positiva, penso que seja uma mulher de personalidade inversa, digamos, para completar a minha descrição, que se em cada segundo acontece alguma coisa por estas bandas, como te dizia a pouco, quando Raquel passa…nada acontece!
Ela passa. E passa! E vimo-la passar, e isto durante segundos e depois minutos, e é o sol que não se mexe e a lua que não pára, e o vento move-se, todo em torno dela!
Já te ouço sorrir, e vejo-te desenhado em pensamentos que nunca moderei…mas acredita por aqui tudo é diferente, o sol aqui até aquece mais...
Ora trinta segundo mais depressa, ora trinta segundos mais devagar e Raquel, Raquel é o sol da Babilónia…
Sinto a falta da minha colecção de "estudo da madeira contemporânea" volumes III e V manda-mos assim que poderes.

Leonardo Constantinovich
14 Março 1918

Cartas a Sebastião I

Caro Sebastião:

Os dias por aqui passados, são de charme próprio, apenas te posso dizer que o tempo por aqui divide-se por dias, horas e minutos e assim infinitamente. Bem sei que te parece ridículo, porque em toda a parte do globo assim se passa o tempo, mas por aqui é “simplesmente” diferente. Pois a cada segundo, a cada momento acontece uma coisa nova, ou é um pássaro numa folha, ou é uma folha num ramo, ou ainda um ramo numa árvore…
As meninas por estas bandas são verdadeiros tesouros, passam o dia inteiro a olhar para as flores, e eu passo o meu dia a olhar para essas meninas que olham para essas mesmas flores. Como te explicar, dir-se-ia que por aqui a primavera “acontece” apenas uma vez de dez em dez anos…
Hoje questionarei a senhora do condomínio sobre esse assunto, mulher madura, viva e viúva, ainda lhe desconheço o nome, nem sei ao certo se gosto de aqui estar, mas para ser sincero também não desgosto…
Sei bem, que não aprovas a minha partida, mas o apoio é incondicional para o sucesso, por isso peço-te não voltes a interferir nesta ou noutras decisões minhas, digamos que desta vez foi um exílio forçado, isto de andar de carroça em contramão nunca deu nada de positivo nas ruas de Paris.

Manda beijos a Maria,
Sinto a vossa falta…


Leonardo Constantinovich,
14 de Março de 1918

domingo, 1 de março de 2009

Spider 2



by:Sr_Próprio



spider








By:Sr_Próprio


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009




Sr.Proprio

Não procuro com a intenção de achar...




By.SrProprio

...



By:SrProprio


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

81st Annual Academy Awards


Já passava das 5h (em Portugal) quando a 81ª cerimónia de entrega dos Academy Awards of Merit, mais conhecidos por “Oscars”, terminou. Confesso que alguns dos nomeados me passaram completamente ao lado, ainda assim grande maioria eu conhecia. Nesta cerimónia, cheia de energia (não ela, mas as pessoas que nela participaram, obviamente), há que destacar algumas coisas (sumariamente):

- primeiro, foi muito agradável ver a remodelação do espectáculo da Academy of Motion Picture Arts and Sciences levada a cabo por toda uma nova equipa responsável por pôr os “Oscares” de volta no topo das audiências ( os produtores foram Bill Condon e Laurende Mark, produtores do filme Dreamgirls, por exemplo);

- segundo, Slumdog Millionaire (em Portugal Quem quer ser Bilionário) foi o grande vencedor, arrecadando 8 óscares (entre os quais o de melhor filme), em 10 nomeações;

- terceiro, The Curious Case of Benjamin Button (em Portugal O Curioso Caso de Benjamin Button) foi um dos grandes derrotados (digo eu), sendo premiado com 4 óscares (em 13 nomeações – o mais nomeado desta 81ª cerimónia dos Oscares). Os outros grandes derrotados foram Dark Night, Milk e Wall-E;

- quarto, fiquei desiludido com o facto de Angelina Jolie não ter ganho a estatueta de melhor actriz. Na minha opinião, em Changeling, Angelina Jolie demonstrou ser uma grande actriz e desempenhou o seu melhor papel até à data. Além disso, a profundidade e complexidade da sua personagem (Christine Collins) e a maneira como a “encarnou” faziam de Angelina a minha favorita na corrida ao prémio. Ainda assim, o Óscar não foi mal entregue, mas, quanto a mim, Angelina Jolie merecia a estatueta (e aqui falamos de questões de mérito);

- quinto, Wall-E foi quanto a mim o grande injustiçado da noite. Porquê? Muito dos que viram o filme saberão porquê. A profundidade de Wall-E, enquanto filme e enquanto personagem, as múltiplas mensagens e duplos sentidos que se nos apresentam no filme fazem dele um óbvio candidato a melhor filme (não foi nomeado) e melhor realizador (não foi nomeado). São escolhas é verdade, mas são também essas escolhas que demonstram quem somos e o que queremos. Neste caso, parece que a mensagem ecologista (e não só) de Wall-E não teve para a Academia assim tanta relevância, afinal de contas “já não estaremos cá quando o «mundo acabar» ”…;

- sexto, foi com um misto de felicidade e amargura que ouvi “and the winner is Heath Ledger”, na categoria de melhor actor secundário. Amargura porque Ledger não podia ali estar presente, pelo menos fisicamente. Amargura pela sua morte prematura. Amargura porque o seu primeiro Óscar no ano da sua morte. Gostaria de o ter visto subir ao palco e ouvir as suas palavras de quem já muito viveu (apesar da escassa idade). Felicidade porque ele merecia-o, ele era um grande actor e um intelectual. Não me esquecerei do seu estilo descontraído. Nunca se esqueceu do que era representar e do que era viver apaixonado (por isso nunca me pareceu verosímil a ideia de suicídio).

R.I.P. Heath Ledger (“I like to do something I fear. I like to set up obstacles and defeat them. I like to be afraid of the project. I always am. When I get cast in something, I always believe I shouldn't have been cast. I fooled them again. I can't do it. I don't know how to do it. There's a huge amount of anxiety that drowns out any excitement I have toward the project.”…).

Para mais informações consultem: http://www.oscar.com/nominees/?pn=nominees.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

E se tivéssemos uma segunda oportunidade o que faríamos com ela?


Primeiro acto

Tock, tock, tock…

-Minha senhora, posso entrar?
-Claro Abílio, entra, entra por favor. Já tratou de tudo o que lhe pedi?
-Sim, minha senhora…
-Logo à tarde terá os resultados que pediu
-Um por continente lembra-se?
-Sim minha senhora um por continente…
-Muito bem. Mais alguma coisa, que deva saber!?
-Minha senhora se me permitir, acha que é uma boa solução? Fazer assim este empreendimento desta forma em sorteio?
-Abílio, a minha decisão, está tomada e não há nada que me possa fazer mudar de ideias e como sabes não tenho herdeiros…
-Sim minha senhora, no entanto não pensa que é um pouco cedo para tratar do testamento? E desconhecidos e se…
-Abílio, não volto a falar neste assunto, o dinheiro é meu, e faço o que entender!
-Sim, minha senhora!

(o tempo passou)

Tock, tock, tock…

- Minha senhora, posso?
-Claro Abílio, entra, entra…
- Minha senhora o sorteio foi efectuado, e com sucesso!
-Ai sim? Mais detalhes por favor…
-Inicialmente fi-lo, em África depois como me pediu na Ásia, passando pela Europa e acabando na América (norte e sul) …
-E tem mais detalhes sobre as pessoas que foram escolhidas?
-Sim claro, como me pediu liguei para o país adoptivo de cada um, pedindo toda a informação, o mais detalhada possível sobre cada qual…


Segundo acto
Cena 1



- (o pobre acorda, olha para todos os lados, sem se perder porém em lado algum)
- (e num segundo tempo olha para a carta e só depois acorda o vizinho, sem maneiras e de modo bruto)

Pobre -Amigo, amigo, acorde…

Pobre – Acorde, por amor de Deus!
(talvez deva mover os seus braços em sinal de desespero)

Pobre - Onde estou? O que se passou? O que fazemos aqui?

Ambientalista – Mas o que vem a ser isto?

Ambientalista – Quem é você?

Pobre – Não sei, estava aqui, você ai, e os outros todos, neste tipo de sala… e… uma carta!
(olha para ela com muito receio, diríamos como alguém que olha para uma bomba e não sabe o que fazer a não ser chamar alguém!)

Ambientalista – Pois bem, e leu-a? O que vem nela?

Pobre – Não sei, amigo não sei… para ser sincero sempre tive mais medo de uma caneta e de uma folha de papel, do que das cheias ou do inverno…Por isso, digo-lhe, não sei nem ler nem desenhar letras.

- (os outros acordam, cada um ao seu ritmo e contemplam a cena)
-( o ambientalista, começa a ler a carta em voz baixa,)

Ambientalista – Venho por este meio…Multimilionária….Sorteio…herança …Herança???!!

Ambientalista – Não pode, não pode ser…

Pobre – Mas o que foi, (bate-lhe no braço impulsivamente)

Ambientalista – Essspera lllá homem… (levanta as duas mãos ao céu, e relé a carta)

( e espera-se alguns segundos em quanto relé)

Ambientalista – li, vi, reli, e revi e…não há duvida! Há apenas uma coisa a dizer …

Pobre –( mostra impaciência, emitindo um grunhido)

Ambi – Somos, as pessoas com mais sorte neste mundo!

Cena 2

(Seropositiva ri-se como se lhe tivessem contado um piada seca, um riso curto e sarcástico, que vai anunciar o monologo do pobre)

Pobre – O quê? As pessoas com mais sorte neste mundo? Isso não é possível…
A minha mãe, eu… a vida nunca nos deu nada, é verdade que tivemos saúde, e depois? Será que é isso, sorte? E quanto aos outros? Há condimentos dos quais nunca conheci o sabor, antes pescava uma hora e tinha peixe para três dias, hoje pesco seis horas e é apenas para uma refeição! Os ventos têm trazido cada vez mais areia, e por isso moro cada vez mais longe da praia…
E quanto às chuvas já nada sei, nada entendo, o meu avô falou-me em prados verdes na primavera, eu nem regando consigo sonhar em colher um quarto do que semeio!
Talvez a culpa seja minha…
Vivo apenas para estragar um pouco mais cada dia o meu pobre corpo…se isto é sorte dou-a, e vendo-a a quem a quiser.

Ambientalista – Então homem? Que cara é essa?

Pobre – Apenas estava a pensar…

Amb – Mas a pensar no quê? Ganhas-te dinheiro homem, não morreu ninguém…

Pobre –(Com um sorriso bastante céptico de quem recorda a vida e de tudo o que perdeu responde) Calha mesmo bem, o meu relógio ficou sem pilha a semana passada…

Amb – Estás a gozar comigo? Não?... Ganhas-te muito dinheiro mesmo!

Pobre – Muito dinheiro? Mas como?

Amb – Ganhas-te dinheiro suficiente, para deixares de pagar uma renda e passares a ser proprietário de uma mansão!
Ganhas-te dinheiro suficiente, para deixares de ter uma acção para poderes ser dono de uma empresa!
Ganhas-te dinheiro suficiente, para deixares de andar a pé, para passares a voar…

Pobre – Então é mesmo muito dinheiro…

Amb – Meu amigo, vais poder tornar a vida de todos os que gostas mais agradável…


Cena 3

Entra o psicólogo

Psi – E a de todos os que não gostas, mais insuportável!

Amb – de qualquer modo, cada um faz o que entender, pois seremos em breve ricos, e então se isto não é sorte, é felicidade…

Seropositiva –(Rir-se de novo) Meu amigo, estou as ver que não entende nada de sorte nem nada de felicidade…

Felicidade
Felicidade, é comemorar o ainda estar viva, pois só já há mesmo isso para comemorar…
É saber que se estou viva apenas por tomar continuadamente as drogas que me dão para sobreviver…

É saber que quando vou tirar sangue para análises vou enfrentar mais uma daquelas filas de dezenas e dezenas de utentes e que por essa mesma razão, não vou ficar à chuva ou ao sol…

Psi - De que mal sofres tu então?

Seropositiva - Sou apenas uma mulher que já está um terço morta, perguntas qual é o meu mal, a minha resposta é simples, sofro de não poder escapar ao fundo do poço em que me encontro, sem que haja alguém que me lance a corda salvadora. Um dia também eu deixarei estas filas, mas para ir buscar outras e como eu, milhares e milhares de infectados pelo HIV.

Pobre – HIV? Mas o que é?

Seropositiva – HIV? É a infelicidade crónica, HIV, é não poder comer o que se quer estando apenas condicionada a comer o que se pode, é viver continuadamente cansada, é estar constantemente preocupada com os outros, é temer que uma simples constipação seja na realidade uma pneumonia, é poder esquecer o contacto com os animais pois estes amigos proporcionam-me mal estar…
É estar sujeito a discriminações, a dores de cabeça constantes, olhares reprovadores, uns são surdos por interesse outros cegos por necessidade sem contar com os que se fazem burros por obrigação.

Pobre – ???

Psi – O que ela quer dizer é que o VIH é um vírus devastador e que, entrando no organismo, já nada é possível fazer para o remover. Ele invade todo o nosso corpo, destruindo as células que defendem o nosso organismo.
As pessoas infectadas por este, os chamados seropositivos, perdem a capacidade de se defender contra micróbios que dificilmente incomodariam uma pessoa saudável.
Chamam-se doenças oportunistas que agem como ladrões que se aproveitam destes desastres naturais para roubar a desgraça alheia. Uma simples constipação torna-se numa pneumonia, e esta, esta pode conduzir à morte (fim do acto, ao fechar das cortinas, se é que me entendes).


Pobre - …

Seropositiva - Querem saber porque ainda me prendo à vida?
É justamente a música persistente que vive nas minhas ideias, que vem acompanhada da morte, que me sorri como uma ama a uma criança que vai embalar …
Por isso luto pela vida, que é o mesmo que lutar por essa felicidade, será o ódio dos homens ou a vingança de Deus?
Apenas sei que é a evolução da ciência e da filosofia que me mantém acordada…pensava poder convencê-los pela razão, pelo interesse, pela dignidade, pela liberdade, pelo amor, humanidade…mas de nada serve! Pois essas palavras revelam-se mudas quando sou eu o orador.

Ambientalistas - realmente penso que não entendo nada de nada, mas isso também não importa, o que é certo é que temos o dinheiro…

Seropositiva – E isso resolve-me o que? Vais me dar dois terços de vida? Achas que…

Pobre – Espera! Esse dinheiro é suficiente para retirar os grãos de areia que separaram entretanto a minha casa do mar?

Ambientalista -?

Seropositiva -?

Psicóloga -?

Terceiro acto

“trimmmmmmmmmmmmm, trimmmmm”

Prof – meninos, para trabalhos de casa quero que realizem a actividade dois da pag 54
João – mas que raio de sonho…


Narrador - O fim não nos interessa, pois como todos sabemos não existem multimilionários sem herdeiros, nem tão pouco sorteios loucos…
Apenas existem personagens que morrem em cena,
Actores que voltam para casa,
Espectadores que batem palmas e sorriem
Enquanto os problemas persistem….
By:SrPróprio (foto www.olhares.com)

Esta ai alguem?



By: SrPróprio

Os melhores amigos do homem






By: SrPróprio