segunda-feira, 23 de março de 2009

Cartas a Sebastião I

Caro Sebastião:

Os dias por aqui passados, são de charme próprio, apenas te posso dizer que o tempo por aqui divide-se por dias, horas e minutos e assim infinitamente. Bem sei que te parece ridículo, porque em toda a parte do globo assim se passa o tempo, mas por aqui é “simplesmente” diferente. Pois a cada segundo, a cada momento acontece uma coisa nova, ou é um pássaro numa folha, ou é uma folha num ramo, ou ainda um ramo numa árvore…
As meninas por estas bandas são verdadeiros tesouros, passam o dia inteiro a olhar para as flores, e eu passo o meu dia a olhar para essas meninas que olham para essas mesmas flores. Como te explicar, dir-se-ia que por aqui a primavera “acontece” apenas uma vez de dez em dez anos…
Hoje questionarei a senhora do condomínio sobre esse assunto, mulher madura, viva e viúva, ainda lhe desconheço o nome, nem sei ao certo se gosto de aqui estar, mas para ser sincero também não desgosto…
Sei bem, que não aprovas a minha partida, mas o apoio é incondicional para o sucesso, por isso peço-te não voltes a interferir nesta ou noutras decisões minhas, digamos que desta vez foi um exílio forçado, isto de andar de carroça em contramão nunca deu nada de positivo nas ruas de Paris.

Manda beijos a Maria,
Sinto a vossa falta…


Leonardo Constantinovich,
14 de Março de 1918

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Leonardo,

Também por aqui o Sol morre em crescendo desde que te exilaste nesse pais de flores que miram flores.
Nas ruas de Paris as carroças que correm em câmara lenta deixam rastos de melancolia, como se de caracóis ou lesmas multicolores se tratassem. As árvores já têm folhas e os pássaros continuam mudos.
A Maria envia-te beijos de algodão doce.
Um grande abraço e uma nota de dólar rasgada no meio.

werther disse...

Bom, assim de repente, parece-me que estou a servir de fundo de inspiração a alguém .....

Bolinha Vermelha disse...

Bem a verdade é que, ando meia apagada, mas sim, eu li o que escreveste, sim li a primeira carta ao Sebastião. Está bom =)

Anónimo disse...

"Torna-se dificil viver, e insuportável não existir...
Nao sei ao que se deve,tal sentimento mas estou convicto que o simples facto dos meus recursos serem limitados face as minhas vontades ilimitadas, estar no centro deste meu problema!"

Aqui entra outra vez as dúvidas! Que por sua vez põe a funcionar o juízo que faz questionar essas dúvidas para obter respostas que o vento irá trazer!
O grande problema aqui é se conseguirás apanhar o vento no momento em que me apanhaste a mim quando me deste aquele dólar...
Estas cartas são como recados, em que estes recados estão escondidos nas palavras simples que ao primeiro olhar só têm um sigificado mas depois de ver o seu reflexo vejo um adultério que me faz sorrir e faz perceber realmente o seu "simples" significado.
Está intenso, dá para sentir muita coisa...


Puto