sábado, 6 de setembro de 2008

I Believe I Can FLy (I) by LD


Este será o primeiro post inserido no meu espaço opinativo, cognominado "I Believe I Can Fly". Nele abordarei a participação portuguesa nos JO de Pequim 2008 - como não poderia deixar de ser. Gostaria que comentassem. (Pedimos desculpa, mas por motivos de força maior, Nazaré não pode iniciar a sua crónica semanal, todavia contem com ele para a semana).

Muitas foram as vozes que aventaram argumentos negativos acerca da participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008. Apelidaram a nossa participação de falhada, humilhante, vergonhosa, etc..
Não concordo que a participação portuguesa tenha sido uma vergonha, longe disso, contudo também eu fiquei com um toque agridoce na língua. Não posso esconder que tinha depositadas grandes esperanças na Telma Monteiro (uma medalhita), no Gustavo Lima (esteve quase), na Naide Gomes (óptima atleta...mau dia) e o João Costa (grande desilusão). Já o Nélson Évora e a Vanessa Fernandes estiveram num óptimo nível desportivo - muitos parabéns a ambos. No ético, a Vanessa Fernandes falhou. E falhou simplesmente porque aquilo que disse, disse-o de barriga cheia e num timing errado, evidenciando uma enorme falta de respeito pelos seus colegas de selecção. Atenção, não digo que aquilo que ela disse não está certo, ela sabê-lo-à muito melhor que eu, mas o timing em que o disse demonstrou da parte dela uma enorme falta de respeito para com os colegas.
Uma palavra também acerca do sr. Vicente Moura e da verba investida pelo Estado.
Primeiro, o sr. Vicente Moura demonstrou-se nervoso, demasiado impulsivo e até pouco profissional. Não se admitem comentários como os que fez sabendo que ainda havia atletas em competição (por exemplo, o Nélson Évora). Além disso, depois da medalha do grande Nélson, Vicente Moura veio dar o dito por não dito e, afinal, eventualmente, recanditar-se-à a mais um mandato (até aos JO de Londres em 2012). Isto não só demonstra a falta de tacto do sr. presidente do Comité Português, como também que Vicente Moura não é idóneo para ocupar este cargo. Neste cargo, exigem-se pessoas com profissionalismo e capacidade de liderança, pessoas que amam o desporto e o vivem/viveram por dentro (para perceber que por vezes estamos num dia mau e as coisas não correm como podiam), requisitos que se Vicente Moura preenche, não o demonstrou de maneira nenhuma.
Quanto aos 14 milhões de euros investidos pelo Estado na campanha olímpica só tenho a dizer que para Londres necessitaremos de um investimento ainda maior, mas melhor administrado. Porquê?! Porque os nossos atletas necessitam de meios para poder lutar por medalhas (não, não é só força de vontade e "pelôs na venta") e não é porque desta não conseguiram atingir as expectativas de Vicente Moura e demais uns quantos ludibriados que se lhe retira todo o apoio. A aposta deve ser contínua e reforçada de forma sustentável óbviamente. É claro que há que pesar os resultados e o investimento e chegar a uma harmonia. Por último, esse orçamento tem de ser administrado de forma mais responsável, pois atletas como Rui Silva e Sérgio Paulinho não chegaram a pisar Pequim e, no entanto, receberam uma parte significativa da verba investida. Era dificil prever que não iriam, dir-me-ão. Talvez, mas ainda assim há uma alternativa, canalizar esse investimento "perdido" para a nova campanha (e se esses atletas participarem nos JO de Londre 2012, então o investimento já foi canalizado).
No fim de contas, completamente desiludidos, muito orgulhosos ou ainda com um toque agridoce, o que fica para a história é que a participação portuguesa foi a melhor de sempre - obtivemos 43 pontos. Além disso, "l'important n'est pas de gagner, mais de participer", como disse o sábio barão Pierre de Coubertin [se bem que ambição de vencer nunca fez mal a ninguém].


PS - Não podia deixar de falar nos atletas (para além dos portugueses) que para mim foram sem dúvida espectaculares nestes JO. Sim, refiro-me a Usain Bolt (medalha de ouro e recordista mundial dos 100 m, 200 m e 4x100 m), Michael Phelps (8 medalhas de ouro, 7 recordes mundiais e 1 recorde olímpico), Yelena Isinbayeva (medalha de ouro e mais um recorde do mundo [24ªa vez que bate o recorde do mundo] no salto com a vara), equipa norte-americana de basquetebol (mostraram que realmente são os melhores, só contra Angola e na final [contra a Espanha] não ganharam por mais de 30 pontos), e talvez me esteja a esquecer de algum...
Uma palavra também para elogiar a organização chinesa. Sem sombra de dúvida, este foi um dos mais espectaculares JO de sempre!

5 comentários:

André disse...

Concordo plenamente com as tuas afirmações, gostava no entanto, se me permites, abordar a questão do ponto de vista Macroeconómico. Não sei se reparaste mas no livro do Prof. Gregory Mankiw "principles of Macroeconomics" (se não estou em erro), ele faz um pequeno parêntesis no capítulo relacionado com a contabilidade do Estado, PIB e afins. Nesse parêntesis ele relaciona o grupo de países que conquistou o maior número de medalhas olímpicas conquistadas em Atenas, com o grupo de países com o maior PIB, chegando à conclusão que existe uma total correspondência. Onde é que eu quero chegar com isto? De facto, o que pudemos verificar mais uma vez, é que as grandes potências económicas, oferecem melhores condições aos seus atletas que, embora pesem as variáveis talento e inspiração, sorte ou azar, o investimento nos atletas tem tido retorno directo em medalhas, mais uma vez os E.U.A arrecadaram uma quantidade brutal de medalhas, a China, O Reino Unido e, não podemos esquecer que muitos dos atletas de países mais pobres, que têm causado sensação nas últimas olímpiadas treinam nos E.U.A (não sei se é o caso de Usain Bolt). Não me interpretem mal, eu não quero com isto desculpar Portugal, mas quero sim trazer os portugueses à realidade, os nossos atletas ganham um subsidio a rondar os 1000 e poucos euros, o que não chega para se ser profissional a tempo inteiro, os resultados estão à vista, mas como o Estado está com problemas económicos, não pode oferecer um apoio muito melhor, mais uma vez, chegamos à economia e ao PIB, questão que eu queria aqui levantar.
~André

LD disse...

Não só permito, como achei muito pertinente esse teu acrescento. Por acaso não me recordava dessa comparação. É verdade, o aspecto económico está muito relacionado até com as prestações dos atletas. É como digo, economia e direito estão em quase tudo.
Obrigado e abraço.

LD

Anónimo disse...

Li o post do Luís e ia dizer exactamente o mesmo que o André (até comentei isso com a minha família na altura).
Gostava de acrescentar apenas que para além da falta de apoios financeiros, muitos atletas não se dedicam inteiramente ao desporto que praticam (se não se for jogador de futebol,em Portugal raramente compensa ser atleta profissional apenas), pois muitos dos nossos representantes olímpicos são estudantes universitários, em cursos de medicina e engenharias por exemplo.
E aproveito aqui para mostrar o meu orgulho de Olhanense pela tão pouco falada Ana Cabecinha que bateu o recorde nacional de 20kms de marcha (que já lhe pertencia) e ficou em 8º lugar, treinando nas péssimas condições que eu tão bem conheço.
http://olhaolivre.blogspot.com/2008/08/ana-cabecinha-8-lugar-em-pequim-parabns.html
Já agora, outro pequeno exemplo de como não se apoia o desporto em Portugal. Há 3 anos (portanto já era este o governo)fui campeã regional de badminton do algarve (nem um diplomazinho de papel que recebi) Fui a Viana do Castelo representar o Algarve nos Nacionais de Desporto Escolar. Todos os atletas dormiram em colchões de ginástica, sem almofada e sem uma mantinha ou aquecedor (estavamos em Fevereiro penso eu). São condições óptimas para quem vai competir e não favorecem nada uma constipaçãozita. E os campeões nacionais de cada modalidade nem um diplomazito ganharam outra vez.
É este o apoio ao desporto existente em Portugal.

André disse...

Em Portugal a maioria dos desportos encontram-se ainda, infelizmente num estado de profundo amadorismo, mas quando é a hora de pedir medalhas, as pessoas exigem dos amadores o que a maioria dos profissionais não consegue, mas os atletas não se dedicam a 100% porque os fundos assim o não permitem

LD disse...

Obrigada Marta por partilhares a tua vivência pessoal, isso demonstra bem o quanto Portugal vive no amadorismo no que ao desporto diz respeito (e não se iludam, no futebol a coisa não está muito melhor).

André, concordo plenamente, mas quando se fala em investir mais nestes atletas as pessoas ficam revoltadas. Não percebo! 14 milhões?! Esperemos que da próxima sejam mais, para dar aos nossos atletas condições para se profissionalizarem e trazerem as tão almejadas medalhas.